domingo, 7 de setembro de 2008

XXVIII Encontro Nacional dos/das Estudantes de Pedagogia na Universidade Federal do Espírito Santo

Entre os dias 19 e 25 de Julho deste ano de 2008, a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Vitória, sediou o XXVIII Encontro Nacional dos/das Estudantes de Pedagogia (ENEPe). A instituição dispôs o Centro de Educação Física (ginásio de esporte e salões) para o alojamento interno, e um acampamento de juventude para o alojamento externo dos participantes.

Com o tema “O Papel do/a Educador/a na Transformação da Sociedade” não só despertou o interesse dos graduandos em participar, como também contou com a presença de professores da UnB, USP, UFBA, DF, Faculdade Metodista, da própria UFES, da nossa instituição e entre outros a comporem as mesas com os sub-temas: “O sol nasce ao sul: um giro pelo mundo a partir da América Latina”, “Desafios do M.E.: transformação ou ruptura?”, “Financiamento da Educação e Reforma do Governo Lula”, “Novas Tecnologias: para reforçar uma visão individualista ou rumo a uma visão progressista?”, “Opressões: gênero e diversidade sexual”, “Etnia e Inclusão” e a tão aguardada última mesa com o tema do evento “O Papel do/a Educador/a na Transformação da Sociedade”.

Além de tais palestras, também houve Apresentações de Trabalhos orais e pôsteres; Grupos de Discussões sobre Reforma Universitária, Movimento Estudantil, Gênero e Diversidade Sexual, Etnia e Inclusão, Novas Tecnologias, e Estatuto ExNEPe; Noites Culturais com diversos ritmos como Congada, Samba Capixaba, Noite Cultural dos Estados, Cultural Póca – congada, forró e reggae – e Noite do Vinil.

Certamente, Vitória por ser uma cidade com belezas diversas e um potencial histórico-cultural fascinante, exibiu encantadores lugares a serem visitados. Destacaram-se a Praia da Costa e a de Itapoã; o Farol de Santa Luzia; o Convento da Penha; a lojinha e a fábrica da Garoto; o Museu Ferroviário de Vila Velha; a Pedra da Cebola; a Ilha de Caieiras; além de apreciar os belíssimos artesanatos nas Paneleiras em Goiabeiras, degustar a saborosa moqueca capixaba ao molho de camarão, acompanhada de uma bebida típica de maracujá e pitanga. Pensando nisto, a comissão organizadora do encontro especificou um Dia Livre no meio da semana para que pudéssemos “desvendar” a empolgante terra recém-chegada.

Este era um ENEPe estatutário. Conforme ocorre a cada dois anos, o Estatuto ExNEPe é discutido e são aprovadas as modificações. Além disso, o plano de lutas recebeu diversas propostas e seguem algumas das encaminhadas pela Plenária Final:

1. bandeiras de lutas – contra o SINAES/ENADE, por uma universidade pública, gratuita, de qualidade, autônoma, democrática, laica e a serviço do proletariado, e pela revogação do decreto 6096/07 (REUNI), defender a paridade nos conselhos universitários, campanha em prol do voto universal para reitores e diretores das faculdades e centros de ensino;
2. plano de ações – lutar pela derrubada no veto ao PNE (que investe 7% do PIB), construir a Semana contra as repressões e criminalizações dos movimentos populares em Setembro, construir uma Calourada Unificada pela revogação do Decreto 6096/07;
3. Educação à distância – que façamos mobilizações nacionais contra as medidas governistas de implementação da EAD e de sucateamento da educação, garantir o envio da moção aos estudantes da UNESP na luta contra o projeto de criação do curso de Pedagogia modalidade à distância em parceria com a UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), até 12/08/08 tendo em vista a manifestação na reitoria durante a votação do projeto;
4. reforma universitária – lutar contra as fundações privadas nas universidades públicas,unificar as lutas mensalmente e elaborar propostas para um calendário de lutas nacionais contra a reforma universitária, REUNI, os bacharelados interdisciplinares e o PROUNI, construir a semana de lutas contra a Reforma Universitária de Lula/PT, de 18 a 22 de agosto;
5. SINAES/ENADE – construir, a partir de materiais e palestras, o boicote ao ENADE;
6. conjuntura – apoio ao processo de ruptura dos sindicatos de base com a CUT;
7. etnia e inclusão – vigilância da lei 11.645/08 (referente à implementação de disciplinas sobre culturas negras e indígenas) e a lei de inclusão de portadores de necessidades especiais diretamente ligada à capacitação de profissionais (professores e funcionários) que quaisquer instituições públicas educacionais, bem como a cobrança de adaptação dos espaços físicos;
8. gênero e diversidade sexual – que as entidades de base realizem atividades de formação envolvendo o debate gênero e diversidade sexual, ampliando o debate entre os estudantes secundaristas;
9. moções – de repúdio e de apoio.

Tais atividades possibilitaram uma integração boa entre os participantes, discussões ricas e vastas acerca dos rumos da educação e as barreiras encontradas diante dos projetos governamentais de sucateamento e privatização do sistema de ensino, o qual lutamos para que seja público, gratuito e de qualidade! Nas esvaziadas plenárias, reuniam-se os protagonistas de reivindicações, sonhos, lutas, manifestações, batalhas, greves, ocupações de reitorias e vitórias por toda a extensão do território brasileiro: futuros – mas já agentes modificadores da fragilidade do sistema vigente – educadores deste país!

Entretanto, esta edição do encontro foi palco de momentos desagradáveis, como um planejamento quadruplicado da quantidade de inscritos e as conseqüências disto: refeições no Restaurante Universitário, bolsas, camisas, crachás e materiais didáticos que sobraram e seriam oferecidos aos inscritos dentro da quantia de R$110,00 paga por eles – considerada alta por grande parte dos estudantes e utilizada como justificativa central para a não ida de boa parcela dos interessados – ocasionando o menor número de inscrições dos últimos ENEPes; elevado custo com os seguranças; entre outros dispêndios como a limpeza do local e os banheiros químicos; resultando numa dívida de R$27.000,00 na conta pessoal de integrantes da executiva.

A fim de saná-la, os presentes propuseram arrecadações através da organização de atividades como oficina de forró, cabeleireiro, festas e até mesmo o prolongamento das Noites Culturais, ultrapassando às 3h da madrugada, para vender mais bebidas – o que levou certos companheiros ao consumo excessivo de álcool; obtendo uma quantia ínfima quando comparada ao real montante.

Sabe-se que organizar um evento é um desafio enorme, o qual só pode ser superado com a contribuição de todos. Sem dúvida, essa dificuldade apresentada foi um problema de todos os presentes, funcionando também como uma autocrítica que deveria ser debatida seriamente se não fosse a turbulência causada pelo fato da ExNEPe compor as mesas com palestrantes defensores de um conteúdo trágico para as universidades públicas – negando o posicionamento dos estudantes de Pedagogia CONTRÁRIOS À REFORMA UNIVERSITÁRIA do presidente Lula e que romperam com a burocrática e governista União Nacional de Estudantes (UNE) desde 2006 no XXVI ENEPe!

Outro fator aborrecedor foi constatado na burocratização dos debates, visto que somente dois minutos destinaram-se aos estudantes; portanto, quase 90% da plenária não pôde intervir. Os novos graduandos em Pedagogia devem se perguntar neste momento o porquê disto num evento que deveria prezar os bons, os coerentes e os justos caminhos educacionais para a nação. Então aqui respondemos, dizendo que de fato parte da própria executiva é composta por universitários atuantes na UNE e, em decorrência disto, propagandistas do governo! Tudo isto contribuiu perfeitamente para reduzir a participação dos estudantes, esvaziar os debates políticos e limitar a democracia.

Inesperadamente, visando objetivos maiores do que a preocupante desordem relatada, a Pedagogia mostrou-se capaz de se UNIR na construção de um belo, organizado e pacífico ATO pela Av. Fernando Ferrari, principal via de acesso ao Aeroporto e onde a UFES se localiza. Através de cartazes como “Concurso público urgente! Não à contratação! Sim à efetivação!”, “Educação não é mercadoria!”, “Por salários mais dignos” e uma faixa central com os dizeres: “a Revogação do Reuni e contra a criminalização dos movimentos estudantis e populares”, cerca de 150 universitários paralisaram algumas pistas do trânsito capixaba.

Os cânticos do Movimento Estudantil de Pedagogia (MEPe) chamaram a atenção de pedestres, passageiros e motoristas, a aplaudirem e buzinarem como forma de apoio às causas levantadas. O carro-de-som foi um importante instrumento para a agitação e condução dos manifestantes, os quais ao longo do ATO relataram as lutas em cada estado.

Ao retornar à UFES, confraternizamos com a seguinte canção: “Embarca morena embarca molha o pé, mas não molha a meia. Viemos de todo o Brasil fazer a luta na terra alheia!”, comprovando assim a força do M.E. corajoso e unificado, que quando bem organizado pode sim criar alternativas ao que muitos julgam ser “impossível”: lutar pela educação pública como um direito de todos os cidadãos, e democratizá-la, facilitando o acesso e a permanência estudantil no ambiente escolar/universitário, implementando toda a ASSISTÊNCIA necessária desde material didático, merenda escolar/bandejões, passe-livre, até acompanhamentos psicológico e familiar para otimizar o rendimento durante as aulas.

A UFRJ dispôs de um ônibus ida e volta à Vitória, comparecendo ao evento com uma delegação reduzida, porém atenta e disposta a somar esforços e a intervir quando necessário. Desta forma, contamos com a sua presença no XXIX ENEPe em Pernambuco e até lá!


Danielle Galante.
(Rio, 31/08/08.)